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Por Rafaela Oliveira
Por mais que existam bons avanços na desconstrução do machismo na sociedade, pouco ainda se aplica na vida das brasileiras, visto que os números mostram que a violência contra a mulher só cresce. Em resposta a essa trágica realidade, surge a campanha Agosto Lilás, que conscientiza sobre a urgência de mobilização social, cultural e política para diminuir a violência de gênero.
Criada em referência a Lei Maria da Penha, que completa 17 anos em 2023, a campanha chama a atenção para os vários tipos de violência contra a mulher e o aumento dos crimes, principalmente após a pandemia, que acentuou vulnerabilidades que contribuem para os números alarmantes.
Durante o mês de agosto, a ideia é debater os vários tipos de crimes contra a integridade física, moral e emocional da mulher, buscar reparar as desigualdades que perpetuam o ciclo de violência, e questionar e desconstruir os comportamentos e preconceitos da sociedade que impedem o fim do ciclo de violência.
De acordo com dados da Rede de Observatórios da Segurança, em 2022, a cada 4 horas uma mulher foi vítima de algum tipo de violência. Em feminicídios, uma mulher é assassinada por dia por conta do seu gênero. Além disso, houve também aumento nas ocorrências de agressão física, estupro ou agressão sexual, ameaças, violência verbal, e até mesmo sequestro, tortura e cárcere privado. Na maioria das vezes, os algozes são homens conhecidos, familiares e, principalmente, parceiros ou ex-parceiros.
Esses números nos mostram que, apesar de imensos esforços em conscientizar a população a repensar como trata as mulheres, ainda não se observa um avanço significativo na prevenção de casos de violência. A situação é ainda mais preocupante devido a subnotificação de casos, que ocorrem por diversos fatores, incluindo o medo, a dependência emocional e financeira ao agressor, e até mesmo pela falta de conhecimento da vítima em entender que o que está passando configura uma violência ou um crime.
Para educar e conscientizar a sociedade, o Instituto Maria da Penha dispõe de um guia para mostrar que esse tipo de crime nunca acontece do nada, mas que, sim, faz parte de um ciclo de violência que possui profundas implicações que impedem que a mulher consiga denunciar e abandonar o relacionamento abusivo.
Tudo começa com o aumento da tensão, que coloca a vítima em um estado de constante medo e apreensão.
Em seguida, a tensão se acumula e leva a segunda fase, em que o ato da violência se manifesta, seja ele verbal, físico, psicológico, moral ou patrimonial.
Aqui, a vítima já se encontra paralisada e impossibilitada de agir. Os sentimentos de medo, vergonha, confusão, solidão e dor também aprofundam a vulnerabilidade, principalmente considerando que a violência parte de alguém do convívio doméstico e afetivo da mulher.
É comum que, após o ato de violência, a mulher tome decisões como pedir a separação, denunciar, buscar ajuda e distanciar-se do agressor. No entanto, o ciclo inicia a sua terceira fase, chamada por especialistas de “lua de mel”, em que o agressor se mostra arrependido, e muda de comportamento para conseguir uma reconciliação.
Ao voltar para o relacionamento abusivo, a vítima estreita os laços que a prendem ao agressor. O medo, a confusão, a culpa e a ilusão são aprofundados e impedem que ela reconheça a violência e o crime, ou que tenha coragem para denunciar e recomeçar. Muitas dependem financeiramente do abusador e, por isso, não têm alternativas para se manterem fora do relacionamento. Assim, o ciclo volta para a primeira fase, até que termine tragicamente.
Além da divulgação de números e criação de políticas públicas de enfrentamento e prevenção, o Agosto Lilás também nos convida a olhar para a reeducação e conscientização. Culturalmente, ainda vivemos em um país que normaliza a violência contra a mulher e, assim, torna os casos ainda mais difíceis de se denunciar e punir corretamente, além de também dificultar o processo de recuperação e proteção das vítimas.
Para começar, é importante ter a consciência de que a violência contra a mulher não se resume em uma agressão física, mas, como demonstrado pelo Instituto Maria da Penha, têm início em comportamentos abusivos e tóxicos, que, na maioria das vezes, não são identificados como algo prejudicial.
A violência moral, patrimonial, sexual e psicológica também são elementos que agravam a situação e aprofundam o estado de vulnerabilidade que impede as vítimas de escaparem do ciclo vicioso. Como podemos ver nos números da segurança pública do país, esse ciclo, frequentemente, termina em fatalidades.
Por isso, o acolhimento às vítimas é parte fundamental do processo de enfrentamento. Conscientize-se sobre esse assunto, esteja atenta às mulheres a sua volta.
Caso presencie ou testemunhe algum tipo de violência contra a mulher, ou se você mesmo estiver sendo vítima, procure a Central de Atendimento à Mulher através do número 180, o serviço público que registra denúncias e as encaminha para órgãos públicos. Você também pode obter informações sobre os direitos da mulher, e também sobre os locais de atendimento mais próximos e apropriados para cada caso.