Mulheres invencíveis: Carmen Miranda, cantora que é símbolo do Brasil no exterior
- 19 de maio de 2020
- 12:01
- Tayla Pinotti
Nascida em Portugal, mas radicada no Brasil desde os 10 meses de idade, Carmen Miranda se tornou um símbolo do Brasil em países do exterior não apenas graças ao seu talento, é claro, mas também aos seus exóticos figurinos e já tradicionais turbantes com frutas que remetiam à tropicalidade brasileira.
Além de ter sido a mulher mais bem paga de Hollywood na década de 1940, Carmen Miranda também foi a primeira mulher a assinar um contrato com uma rádio no Brasil. Com seu estilo único e talento para a música e para a atuação, foi considerada pela revista Rolling Stone a 15ª maior voz da música brasileira.
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Chamada de “A Pequena Notável” (Carmen tinha 1,59m de altura) e “Brazilian Bombshell” (brasileira sexy), a artista não teve uma carreira muito longa, mas foi boa o suficiente para ser lembrada até os dias atuais. Não existe um lugar sequer onde um chapéu coberto de abacaxis, uvas e outras frutas não seja associado à Carmen Miranda e, claro, ao Brasil.
Infância e adolescência
Carmen Miranda nasceu no dia 9 de fevereiro de 1909, em Canaveses, Portugal. Batizada com o nome de Maria do Carmo Miranda da Cunha, “Carmen” surgiu apenas no Brasil, país para onde se mudou com os pais e a irmã antes mesmo de completar 1 ano morando em Portugal.
A família se instalou no Rio de Janeiro e, durante a infância, Carmen frequentou a escola de freiras Santa Teresa. Aos 14 anos, porém, a artista largou os estudos e começou a trabalhar em uma loja de chapéus no bairro da Lapa onde tomou gosto por moda e onde, ironicamente, foi demitida por “cantarolar demais”.
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A convivência com a vida agitada da Lapa, um dos bairros mais badalados do Rio de Janeiro, aproximou a então adolescente da música, além de ter sido uma forte influência em suas referências estéticas futuras.
No ano de 1928, Carmen foi apresentada a Josué de Barros, compositor que a inseriu em clubes e teatros. Josué trabalhava na Rádio Sociedade Professor Roquete Pinto e levou a artista para atuar na emissora, onde estreou como cantora aos 20 anos de idade.
Carreira e consagração
Em 1929, Carmen Miranda gravou sua primeira música, o samba “Não Vá Sim’bora” e não é exagero dizer que, em 1930, a artista já tinha entrado de vez no mundo da música. Seu primeiro disco já havia sido lançado e o seu sucesso veio com a marcha “Pra Você Gostar de Mim”, mais conhecida como “Taí”, escrita por Joubert de Carvalho.
O disco vendeu 35 mil cópias no ano de lançamento, o que foi um recorde para a época. Carmen Miranda passou a ser aclamada pela crítica como “a maior cantora do Brasil”. No mesmo ano, a cantora já estava fazendo sua primeira turnê internacional em Buenos Aires, na Argentina.
No ano de 1932, Carmen assinou um contrato de dois anos na Rádio Mayrink Veiga, uma emissora de rádio carioca, época na qual era praxe o cachê por participação e, dessa forma, se tornou a primeira mulher a assinar um contrato com uma rádio no Brasil. Quatro anos depois, ela foi declarada como a artista mais bem paga do rádio brasileiro.
Em 1933, estreou no cinema em “A Voz do Carnaval”, solidificando sua fama como atriz dois anos depois com outros filmes como “Alô, alô, Carnaval” e “Estudantes”. A revista Cinearte declarou que, na época, Carmen Miranda era a maior figura popular do cinema brasileiro. Ao todo, Carmen Miranda fez 14 filmes nos Estados Unidos e seis no Brasil.
Enquanto se apresentava no Casino da Urca, em 1939, Carmen foi flagrada pelo empresário da Broadway Lee Shubert, que imediatamente providenciou sua vinda para a América. A artista logo fez sua estréia em Nova York em seu programa The Streets of Paris antes de se estabelecer em Hollywood no ano seguinte.
Ela e o Bando da Lua fizeram sua primeira apresentação na Broadway em junho de 1939, em As Ruas de Paris, uma revista musical. Na época, a revista Time chegou a publicar que “ela é a garota que, para o show, todos admiram, e a qual todos se sentem atraídos”.
Em ascensão nos EUA, a fama da artista cresceu durante esse período e tornou-se o elo de aproximação cultural do Brasil com os Estados Unidos, representando a música brasileira no território norte-americano e ligando-se à chamada “Política da Boa Vizinhança”.
Foi também em 1939 que a artista usou pela primeira vez aquele que se tornaria seu traje característico. A fantasia de baiana foi utilizada no musical carnavalesco “Banana da Terra”, onde Carmen fez uma de suas principais interpretações com “O que é que a baiana tem”, de autoria de Dorival Caymmi.
Casamento, alcoolismo e últimos filmes
Durante a década de 1940 e os anos de guerra, Carmen participou de diversos outros filmes como “Uma Noite no Rio”, “Aconteceu em Havana”, “Minha Secretária Brasileira”, “Entre a Loura e a Morena”, “Serenata Boêmia” e “Alegria, Rapazes!”.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, porém, sua fama começou a cair. Os filmes exibidos na 20th Century Fox passaram a ser feitos em preto-e-branco, o que diminuiu o interesse de Hollywood na artista brasileira e na representação dos latino-americanos em geral.
Enquanto em 1945 Carmen Miranda era a mulher mais bem paga dos EUA, em 1946 seu nome não aparecia na lista dos “30 mais bem pagos de Hollywood”. Com o fim de seu contrato em 1946, ela decidiu prosseguir com sua carreira de atriz com a ambição de assumir diferentes papéis no cinema.
A artista se concentrou cada vez mais em suas aparições em boates, tornando-se também referência em programas de variedades na televisão. Ela ainda participou dos filmes “Copacabana”, “O Príncipe Encantado”, “Romance Carioca” e “Morrendo de Medo”, seu último filme gravado em 1953.
Embora a carreira cinematográfica de Carmen estivesse em declínio, sua carreira musical se permaneceu sólida e, de 1948 a 1950, a artista gravou uma série de singles pela Decca Records e chegou a fazer uma turnê de seis semanas no London Palladium, um grande teatro em Londres.
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No ano de 1947, Carmen Miranda casou-se, em Beverly Hills, com o norte-americano David Sebastian, que passou de seu funcionário a seu empresário. O casamento, no entanto, é apontado por todos os seus biógrafos como o começo de sua decadência moral e física, já que, além de conduzir mal os contratos de Carmen, David também era alcoólatra e agredia Carmen.
David também foi o responsável por estimular o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, o que fez com que Carmen se tornasse dependente delas. Além disso, a cantora tinha um forte vício em remédios, o que a estimulou a voltar para o Brasil, em 1954, para um período de “desintoxicação”.
Um ano depois, a Pequena Notável voltou aos Estados Unidos, mas ainda era dependente da medicação e enfrentava uma severa depressão. No dia 4 de agosto de 1955, Carmen Miranda fez sua última apresentação para o programa The Jimmy Durante. Depois de voltar para sua casa em Beverly Hills, morreu na manhã seguinte, com apenas 46 anos.
Carmen Miranda sofreu um ataque cardíaco. Seu corpo foi levado de volta ao Brasil, onde sua morte foi recebida por um período de luto nacional. Mais tarde, um museu foi construído no Rio de Janeiro em sua homenagem e, em 1995, ela foi alvo do aclamado documentário “Carmen Miranda: Bananas Is My Business”.
Agora que você conhece a história da cantora, atriz e dançarina Carmen Miranda, que tal inspirar os pequenos dando a eles (ou à elas) um desenho de colorir? Divirtam-se!
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