Por que a prevenção contra ISTs no sexo lésbico não deve ser ignorada
- 18 de fevereiro de 2020
- 17:18
- Talitha Benjamin
A prática sexual entre mulheres ainda é pouco pesquisada e debatida no Brasil. De acordo com o “Dossiê Saúde das Mulheres Lésbicas – promoção da equidade e integralidade” de 2006, diversos aspectos – incluindo a invisibilidade da sexualidade feminina -, em especial no que diz respeito à homossexualidade e a homofobia, contribuem para que a saúde sexual de mulheres lésbicas seja tratada de forma problemática por profissionais e órgãos responsáveis pela saúde da população.
Existe, no senso comum, a ideia de que mulheres não precisam se prevenir durante a relação sexual com pessoas do mesmo sexo, por exemplo. No entanto, essa é uma informação totalmente equivocada e também perigosa. Segundo a ginecologista Dra. Lígia Rodrigues, mulheres podem contrair infecções sexualmente transmissíveis através da troca de secreções, especialmente por meio de toques e compartilhamento de objetos sexuais.
A médica afirma ainda que microorganismos e vírus como herpes e HPV (causador do câncer do colo de útero), gonorréia, gardnerella (causador da vaginose) e até mesmo candidíase podem ser transmitidos durante a relação, o que faz com que a prevenção seja indispensável.
A prevenção de IST’s para mulheres lésbicas e bissexuais
Apesar da relação sexual entre duas mulheres oferecer tanto risco quanto a heterossexual, ainda não existem métodos de prevenção que oferecem proteção garantida. A recomendação da Secretaria Municipal de Saúde e da ginecologista é de que os métodos de “barreiras” sejam utilizados para impedir o contato com as secreções.
“Os ‘dental dams’, uma espécie de guardanapo para dentistas, pode ser adquirido pela internet, e o preservativo masculino pode ser adaptado para essa finalidade, inclusive também para o uso em brinquedos e utensílios sexuais”, esclarece Dra. Lígia.
Apesar de existirem alternativas, apenas 2% das lésbicas se previnem durante o sexo, de acordo com um levantamento da Secretaria de Estado de Saúde em São Paulo. A falta de informações corretas sobre os riscos e métodos de prevenção são apenas duas das causas dessa realidade.
O descaso com a saúde sexual das mulheres lésbicas e bissexuais
A jornalista Larissa Darc, autora do livro “Vem cá: vamos conversar sobre a saúde sexual de lésbicas e bissexuais“, conta que, em sua primeira consulta ginecológica, o médico se recusou a examiná-la após saber que ela apenas se relacionava com mulheres.
Um ano depois, quando já havia se relacionado com homens, o tratamento foi completamente diferente. A partir de sua própria experiência e de outras questões não esclarecidas sobre a saúde ginecológica das mulheres que se relacionam com o mesmo sexo, nasceu uma pesquisa extensa que constatou o descaso e o preconceito de profissionais e órgãos de saúde.
“Depois de ouvir vários relatos, percebi um padrão de negligência para o atendimento de pessoas que não eram heterossexuais. Como não consideram o sexo entre vaginas legítimo, os médicos e enfermeiras negam exames importantes e passam informações equivocadas, além dos episódios de lesbofobia”, conta a jornalista, que afirma não existir preparo na formação de profissionais para lidar com pacientes que fogem do padrão heteronormativo.
Em relação à prevenção sexual, as adaptações e dispositivos que servem como barreira ainda falham em oferecer sexo seguro para mulheres lésbicas e bissexuais, já que não existem garantias científicas ou estudos que atestem a sua segurança.
Dra. Lígia afirma que apesar de não ser 100% segura, a prevenção não deve ser ignorada. É possível utilizar métodos de “barreiras”, como preservativos e dental dams para evitar a contaminação por secreção.
Além disso, caso sejam utilizados brinquedos e acessórios durante a relação, protegê-los com preservativos também é necessário, principalmente se forem compartilhados. A higiene também precisa ser observada: mãos e unhas precisam estar limpas quando forem entrar em contato com as partes íntimas.
Estas, no entanto, são alternativas temporárias que não abordam o problema inteiro, já que tanta desinformação e obscuridade parte do despreparo social em lidar com sexualidades diferentes da heteronormativa.
Larissa ressalta a importância de dar visibilidade para esses debates: “é importante fomentar discussões ao redor do assunto para que possamos evoluir de verdade. Não é possível solucionar um problema se as pessoas não sabem que ele existe”.