Redes sociais e saúde mental: como encontrar o equilíbrio?

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  • Talitha Benjamin
 redes sociais e saúde mental

Dá para dizer que existe um mundo antes, e um mundo depois da chegada das redes sociais. Em poucos anos, o surgimento das plataformas digitais que promovem interações não apenas se estabeleceu em todos os lugares, como também revolucionou diversos aspectos da nossa vida em sociedade – das formas de se comunicar, até mesmo nos nossos padrões de lazer, de consumo, e é claro, no nosso humor.

É difícil pensar que algo tão revolucionário, útil e fenomenal como as redes sociais possam ser negativos ou fazer mal, mas cada vez mais especialistas têm constatado que, enquanto observamos diversos aspectos da nossa vida serem tomados por essa nova forma de se relacionar, a saúde mental têm dificuldades para acompanhar essas mudanças, e absorvem padrões de mentalidade que são bastante prejudiciais a curto, médio e longo prazo.

Para entender melhor essas questões, vamos falar sobre a importância da saúde mental na era das redes sociais, e como essa reflexão é importante para navegar no mundo digital com mais segurança para o seu bem-estar social, mental e emocional.

A influência das redes sociais no comportamento das pessoas

Quando falamos de redes sociais, estamos falando de todas as plataformas digitais que promovem interações: as mensagens de textos, áudio, comentários, curtidas, e a produção de conteúdo em vídeo vieram para transformar a nossa vida, e é difícil imaginar o mundo antes do surgimento de todas elas. Por mais que a era digital nos ofereça aproximação, empoderamento e liberdade de expressão, ela também permite que tudo isso seja feito no anonimato e distanciamento, o que pode dar vazão para comportamentos negativos – e garantir também a impunidade para certos tipos de atitudes.

De acordo com dados da Safernet, associação que trabalha para garantir a segurança digital, as denúncias relacionadas à crimes de ódio na internet chegam a 2,5 milhões. Ainda segundo a mesma organização, elas apontam que o perfil de pessoas atacadas, em geral, são de minorias marginalizadas: mulheres, pessoas não-brancas e pertencentes à sigla LGBTQIAP+ são as que declaram ter uma experiência hostil na internet, muitas delas tendo que se afastar das redes para preservar a saúde mental.

Ainda falando sobre liberdade de expressão, não dá para negar que, através das redes sociais, todas as pessoas – que antes não conseguiriam visibilidade através dos canais tradicionais como jornais ou televisão – também podem ter o seu espaço e falar livremente sobre o que pensam. Esta forma de se comunicar revolucionou o debate público, oferecendo grandes avanços em direção à acessibilidade, diversidade e inclusão. No entanto, a tendência de participação da sociedade em si não reflete este resultado: em um artigo publicado na revista PNAS (Proceedings of the National Academy of Science), cientistas observaram um perigoso padrão de consumo, que mostra que os usuários das redes costumam buscar conteúdos que reforçam suas opiniões, ao invés de aproveitar a liberdade das redes sociais para repensar preconceitos e ideais.

Diante disso, é necessário que haja uma reflexão sobre qual tipo de comportamento estamos tendo, ou reforçando, nas nossas interações digitais. Para dar um direcionamento, as próprias plataformas de redes sociais possuem políticas de interação e de uso, que podem orientar melhor o usuário sobre quais tipos de conteúdos, comentários, palavras, comportamentos e discursos são aceitáveis e recomendados.

Superexposição nas redes sociais

Atualmente, existe todo um mercado de influenciadores digitais que vivem de mostrar toda a sua vida, incluindo a rotina do dia a dia, momentos íntimos e afins, nas redes sociais. Mas para além de quem ganha a vida mostrando a rotina na internet, as plataformas digitais normalizaram a exposição, seja para fins de compartilhar com seus seguidores – geralmente, familiares ou amigos – quanto para fins comerciais. Mas como saber o quanto de exposição é saudável?

Compartilhar momentos da sua rotina já virou comum para a maioria das pessoas, afinal, é para isso que servem as plataformas das redes sociais, e a atenção em forma de engajamento que recebemos da própria plataforma nos incentiva a compartilhar mais e mais aspectos da nossa vida. Mas o que pouca gente considera, é que detalhes da sua localização, da sua rotina, dos seus horários e do que você gosta ou não podem cair em mãos erradas, ou causar algum tipo de prejuízo.

Dados do Serasa Experian apontam que, apenas no ano de 2021, cerca de 4 milhões de casos de fraudes virtuais foram registrados, e uma grande parte deles têm nas redes sociais o local propício para alcançar mais pessoas, e até mesmo coletar informações de possíveis vítimas. Além disso, a superexposição (também chamado de oversharing) também abre espaço para o cyberbullying, ou discurso de ódio, que pode causar grande sofrimento emocional e psicológico em usuários que se encontrem no papel de vítima.

Essa exposição tem impactos significativos na privacidade do usuário: elas podem causar uma sensação de perseguição, de invasividade e ansiedade causada pelo medo de julgamento. Afinal, quando você compartilha detalhes da sua vida pessoal com seguidores – sejam eles conhecidos ou desconhecidos – isto significa indiretamente, um convite para que essas pessoas tomem partido de aspectos da sua vida que, antes da era digital, seriam inacessíveis.

Como resposta para a constante exposição, as plataformas oferecem um detalhamento completo de quais dados você compartilha ao criar uma conta, e também oferecem ferramentas de restrição de acesso, para que você selecione com mais cuidado quem pode ou não ver suas postagens, fotos e atividades.

E como as redes sociais podem prejudicar a saúde mental?

É fato de que, muito além de oferecer uma forma mais rápida e revolucionária de se comunicar e de compartilhar informações, as redes sociais também alteraram a forma com as quais enxerga-se o mundo: tudo é possível, todos estão conectados na era digital, mas então, porquê, nunca estivemos tão sozinhos? Uma instituição de saúde pública do Reino Unido, a Royal Society for Public Health (RSPH), em parceria com o Movimento de Saúde Jovem, constatou que, dependendo de como é utilizada, as redes sociais podem trazer efeitos nocivos para a saúde mental.

O compartilhamento excessivo da rotina, por exemplo, possui impactos negativos diretos na autoimagem, e também na sensação de pertencimento (o chamado FOMO – Fear of Missing Out, que é o medo de estar desatualizada ou desconectada de eventos atuais), criando um círculo vicioso de consumo. O alto fluxo de informações também pode gerar ansiedade e depressão – afinal, você está consumindo muito informações (muitas vezes, notícias e acontecimentos ruins) mais do que o seu cérebro pode aguentar. Além disso, de acordo com o mesmo estudo, passar muitas horas nas redes também compromete a qualidade do sono, o que por sua vez, exacerba o estresse.

Então, qual é a solução? Abandonar as redes sociais de vez? A máxima da comunidade médica e científica é a mesma para todos os outros vícios e consumos: tudo em excesso faz mal. Pesquisadores da University of Pennsylvania, em um estudo publicado no Journal of Social and Clinical Psychology, afirmam que 30 minutos diários nas plataformas é um período seguro de consumo. Além disso, especialistas em segurança virtual recomendam uma maior atenção para as políticas de uso, ou seja: diminuir o acesso é importante, mas também é preciso tomar cuidado com o que você posta e consome. Assim, você garante um uso saudável das redes, o bem-estar emocional e mental, e a sua segurança, e também, da sua família.



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