Conheça mulheres que trabalham (muito bem) em profissões “masculinas”
- 2 de novembro de 2019
- 10:24
- Talitha Benjamin
Conceitos antiquados como “lugar de mulher é na cozinha” ou “mulher nasceu com o sexo frágil” já estão perdendo força não apenas no vocabulário e nos costumes brasileiros, como também no mercado de trabalho. Com o avanço da economia e da luta por direitos iguais, cada vez mais mulheres conquistam espaços em posições onde os homens costumam predominar.
A desigualdade de gênero ainda apresenta números alarmantes no Brasil, principalmente no âmbito profissional: apesar de serem maioria no Brasil (51% de toda a população segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as mulheres ainda ocupam apenas 44% dos postos de trabalho. Além disso, a remuneração delas chega a ser 17% menor do que a dos homens na América Latina, de acordo com informações da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Todos esses números refletem um setor da sociedade onde o machismo ainda prevalece, o que dificulta o acesso de mulheres. Os papéis de gênero ainda influenciam as escolhas profissionais, por isso, algumas profissões ainda carregam a nomenclatura de “femininas” ou “masculinas”. No entanto, com o maior acesso delas ao mercado de trabalho, esses estereótipos estão lentamente sendo quebrados.
Existe profissões só para homem ou só para mulher?
Todas as profissões podem ser praticadas por qualquer um que estude, treine e se qualifique para exercê-la. No entanto, a sociedade machista e os estereótipos que associam o homem à força bruta e inteligência e a mulher à submissão e cuidado com os outros, acabam por desencorajar o interesse feminino em cargos onde a presença masculina é predominante.
Apesar disso, Ana Carolina Lima, de 29 anos, sempre gostou de computadores e está há 13 anos trabalhando com Tecnologia da Informação: “eu ganhei meu primeiro computador com 7 anos, pois meus pais sempre souberam que informática era o futuro. Desde criança, explorava as possibilidades da tecnologia e hoje em dia trabalho com isso”, relembra.
Já na faculdade de Ciências da Computação, Ana Carolina percebeu que a presença de homens era muito maior: em uma classe de mais de 100 alunos, apenas 20 eram mulheres.
Já Hannah Monteiro trabalha desde os 14 anos com eventos e já transitou por diversas funções: “tentei fugir da área, transitando em cursos de comunicação, mas minha paixão só cresceu pela vida noturna e a “alquimia” das bebidas”, conta ela, que trabalha há 5 anos como bartender.
Em sua profissão, apesar de ser muito comum não haver a exigência por experiência, a preferência de contratação é sempre de homens: “não é raro ouvir nos bares que mulher não serve para esse tipo de serviço, que não consegue nem carregar uma caixa de cerveja”, lamenta Hannah, que acrescenta: “não são todos que pensam e agem assim, mas ninguém pode negar que já ouviu algo do tipo.”
Frases e comportamentos machistas reforçam os preconceitos
Mesmo vencendo a dificuldade em entrar no mercado de trabalho, as mulheres que escolhem trabalhar em uma profissão tradicionalmente masculina ainda precisam lidar com o preconceito. Dentro do ambiente corporativo, o tratamento pode ser hostil, intimidador e pode até culminar em casos de assédio.
Ana Carolina conta que é notável que o conhecimento deles é tido como mais importante, e o salário deles ainda é bem maior. “Nas entrevistas de emprego, me perguntam se eu vou saber lidar com as conversas, comentários e piadas machistas, se vou saber reagir e não me sentir acuada”, conta ela, que além do machismo, ainda precisa lidar com o racismo por ser uma mulher negra.
Já Hannah diz que os comentários e comportamentos machistas do ambiente em que trabalha por muitas vezes é desanimador, e até mesmo estressante: “isso causa um afastamento na contratação de mulheres na área, e mesmo um desinteresse das próprias em se desenvolver na profissão”, lamenta. “Essa cultura nos afeta tanto, que algumas optam por não questionar, afirmando que “é melhor deixar que ele faça. Não fazem ideia do próprio potencial, de que podemos fazer tudo que eles também fazem.”
Episódios mais graves de discriminação costumam acontecer com frequência. Ana Carolina, que é mãe solteira do Guilherme, de 10 anos, já sofreu assédio moral de um cliente com quem tinha contato direto: “eram piadas pejorativas referentes à minha capacidade. Era um tratamento grosseiro, com gritos, críticas, reclamações, comparações e até mesmo ameaças. Foi muito difícil, eu tive uma crise de ansiedade muito forte na época”, lembra.
Já Hannah afirma que, além do ambiente machista, já teve a sua habilidade questionada por um cliente, que ao reclamar para o gerente de uma caipirinha feita por ela, foi autorizado a entrar no seu ambiente de trabalho (área proibida para clientes) e utilizar as suas ferramentas para refazer o seu trabalho.
“Me senti humilhada. Ele foi autorizado a usufruir do espaço e das bebidas do bar inapropriadamente para fazer algo diferente do que tinha me pedido. Ao contrário de clientes que são mulheres, que quando reclamam de algo ou fazem alguma exigência, são tratadas com descaso pelos próprios funcionários”, diz ela, que também já passou por diversas situações de assédio.
Atualmente, as mulheres respondem por 52% dos casos de assédio moral. Também são vítimas na maioria dos casos de assédio sexual, em 80% dos casos, segundo levantamento do site VAGAS.com.
Jogo de cintura para driblar o machismo e conquistar o espaço
Hannah e Ana Carolina já são profissionais experientes, mas afirmam que procuram sempre agregar mais conhecimento, pois dentro do ambiente de trabalho, as suas habilidades são constantemente questionadas.
“Procuro fazer os mesmos cursos que eles fazem e também me inteirar com a conversa”, conta Ana Carolina, que já passou por vários setores da área, e destaca que estar em contato com outras mulheres da mesma profissão também é importante.
“Hoje, felizmente, existem grupos nas redes sociais para mulheres que trabalham com TI, antigamente não tinha nada disso, quem te ajudava era a mulher que trabalhava ao lado, isso quando tinha alguma”.
Hannah conta que observa muitas situações parecidas com as mencionadas por Ana Carolina, e que na maioria das vezes elas passam despercebidas. Apesar de estarem conquistando seus espaços a passos lentos, o desenvolvimento profissional dessas mulheres que tentam a sorte em profissões masculinas ainda é desafio muito grande por causa do obstáculo do machismo. No entanto, ela não se desanima.
“Já passei por poucas e boas, então acabei criando minha maneira de lidar com a situação, pensando em não perder meu emprego, e não abandonar a mim mesma”, desabafa a bartender.
A técnica de Tecnologia da Informação, Ana Carolina também tem seus métodos para lidar com isso: “dou risada e falo besteira junto a eles, vou ao happy hour… Tenho aprendido a me posicionar.”
Hannah dá a letra para quem acha que não há espaço para as mulheres em espaços masculinos: “tento sempre incentivar a mim mesma e outras pessoas a conquistar o seu lugar: você nunca vai saber se não tentar”.
Muito obrigada pelo espaço, é importante que saibamos que não estamos sozinhas! Temos espaço de fala aonde que que estejamos !
Migaaa eu sou pós graduada em gestão de T.i
Aninha, a mulher pode ser o que ela quiser e estar onde ela quiser! Ficamos felizes em mostrar mulheres que, como você, trabalham e se destacam em áreas consideradas “masculinas”! Somos fortes e poderosas e quebramos barreiras sempre!
Adorei a materia. Quero ver muito conteudo de apoio a nos. E incentivar nossas mulheres a se reconhecerem e apagar essa cultura que tenta ocultar nosso potencial. Tmj Ana!
Isso mesmo, Hannah! Vamos mostrar que o lugar de uma mulher é onde ela quiser estar!