Especial Dia das Mães: celebre a data com mulheres que optaram pela adoção
- 10 de maio de 2019
- 16:51
- Tayla Pinotti
“O filho biológico você ama porque é seu. O filho adotivo é seu porque você o ama”. A legenda de uma foto no Instagram de Monik Arantes, 30, assistente financeiro, é um resumo do sentimento que ela cultiva por Laura, filha que adotou aos 28 anos com sua parceira, Claudia Oliveira.
Comemorando o Dia das Mães pela segunda vez, este ano, a data será ainda mais especial para o casal: elas estão em festa por causa da chegada da certidão da filha – que já anda, fala e interage com a família – com os nomes de ambas como mães. Monik e Cláudia contam que em, 2017, o processo correu rápido e foram apenas 19 dias na fila do Cadastro Nacional de Adoção.
“Entramos no CNA dia 1º de setembro e, no dia 19, já nos ligaram do fórum informando que tinha um bebê que se que se encaixava no nosso perfil, o que nos deixou muito surpresas, já que nosso perfil era amplo e aceitava crianças de 0 a 7 anos. Não imaginávamos que seríamos mães de um recém-nascido, porque um bebê é o sonho de todo pretendente à adoção”, contam.
De acordo com o órgão responsável, atualmente, há 45.923 pretendentes cadastrados e 9.566 crianças e adolescentes disponíveis. No entanto, apesar do aparente alto número de adotantes, a seletividade dos interessados faz com que muitas crianças permaneçam por anos à espera de uma família.
No Brasil, a maioria dos candidatos a pais adotivos ou mães adotivas buscam crianças recém-nascidas (de até 1 ano), do sexo feminino, sem irmãos ou irmãs, brancas e sem nenhum tipo de deficiência, perfil que destoa do das crianças disponíveis para adoção.
Adotada com apenas 57 dias de vida, Laura chegou com alguns probleminhas de saúde e, inclusive, exposta ao vírus do HIV. Foi por este motivo que, mesmo com 8 casais habilitados, Monik e Claudia, que eram as últimas da fila e as únicas que aceitavam uma criança com HIV, foram as contempladas com a adoção da pequena.
“Ela chegou a ficar internada durante 8 dias, mas hoje é uma criança muito saudável, está ótima e assistida com uma equipe de infectologista, endocrinologista e outros médicos. Nós somos a prova viva de que o amor cura. Ele transforma e move montanhas”, afirmam as mães de Laura, que agora está em tratamento e bem com a nova família.
Também mãe de uma filha adotiva, Dalva* tem uma história um pouco diferente da de Monik e Cláudia. Atualmente com 55 anos, a psicóloga conta que teve uma menopausa bastante precoce, o que significou uma perda na produção de óvulos em bom estado de fecundação aos 35 anos.
Foi por este motivo que, junto ao marido, decidiu entrar para a fila de adoção. Fizeram o cadastro junto ao fórum em 2003 e passaram a esperar pelo dia em que seriam contemplados.
No entanto, dois anos se passaram e o casal não obteve nenhum retorno. Uma alternativa foi procurar por pais que, por algum motivo, precisavam colocar seus filhos para doação.
Dalva conta que chegou a tentar adotar algumas crianças dessa forma, mas sempre esbarrava em burocracias. Além disso, a psicóloga tinha receio de encontrar uma criança que precisasse ir para a fila de adoção posteriormente, já que nenhuma possuía parentesco com ela ou com seu marido.
Em 2005, porém, a história mudou quando o cunhado de Dalva disse que uma colega do trabalho conhecia uma pessoa que estava prestes a colocar o filho para doação em Pernambuco.
“Como moramos em São Paulo, nós tivemos medo de ir para outro estado e de nos frustrar mais uma vez. Mas decidimos procurar um advogado que nos informou que a adoção seria possível, sim, e que as questões burocráticas seriam facilmente resolvidas”, conta.
O casal deu entrada nos papéis 10 dias antes da criança nascer e, dois dias depois do nascimento, após algumas reuniões, o juíz deu a guarda da criança para Dalva e o marido Antônio*.
Com apenas 10 dias de vida a Beatriz* foi levada para a casa dos pais adotivos. “Foi tudo muito rápido, nós não tínhamos nada, foi tudo de improviso e, por isso, houve muita tensão. Além disso, sentimos as tensões normais de qualquer casal com seu primeiro filho, nada específico por ser uma criança adotada”, lembra Dalva.
Mães de coração e não de barriga
Tratar a adoção de forma natural é essencial para prevenir possíveis traumas e tabus na vida de meninos e meninas. Além disso, especialistas afirmam que toda criança tem direito de conhecer sua história.
Laura, filha de Monik e Claudia, é um bebê e, por isso, ainda não entende algumas coisas. No entanto, o casal faz questão de sempre contar a história da família na hora da criança dormir.
“Nós falamos que um anjinho ‘atrapalhado’ colocou ela na barriga de outra mulher, mas que depois papai do céu permitiu nosso reencontro. Sempre lembramos que ela pode não ter nascido de nós, mas que com certeza nasceu para nós”.
A história contada por Dalva para a filha Beatriz é bastante parecida. A psicóloga, que afirma ter tido convicção de que falaria a verdade para a filha quando ela questionasse, relata que a filha começou a fazer perguntas por volta dos 5 anos de idade.
“Ela perguntou como tinha sido a minha barriga, aí eu disse: ‘olha, filha, a barriga da mamãe tinha um probleminha e não crescia, mas tudo aconteceu de outra forma. Você veio da barriga de outra mulher e, quando nasceu, veio diretamente para nossa casa e hoje você está aqui, com a sua família” e, assim, a criança entendeu que tinha uma mãe e um pai de coração e de alma.
Hoje, Beatriz está com 13 anos e aceita bem o fato de ser adotada, mas não gosta de expor para evitar algumas situações desagradáveis. “Ela ainda tem receio, porque é adolescente e não se sente à vontade. Mas tudo tem um momento certo e eu respeito o tempo dela”, afirma a mãe.
Dia das Mães (adotivas)
Para mães adotivas, o segundo domingo de maio é motivo de comemoração dobrada, afinal, a chegada dos filhos adotivos é um alívio tanto para os pais, quanto para as crianças e adolescentes que finalmente têm a oportunidade de terem uma família e serem amados.
Monik e Claudia definem a adoção como um “reencontro de almas” e, quando questionadas se já sofreram algum preconceito por serem duas mães, a resposta é incisiva: “pelo contrário, as pessoas sempre falam que a Laura é sortuda”.
Na casa de Dalva e Beatriz, que já comemoram juntas há 13 anos, a data sempre teve um peso muito importante. A psicóloga define o Dia das Mães como “maravilhoso, justamente porque ela está aqui”.
Ela ainda deixa um conselho para quem questiona os motivos para adotar um filho: “se você tem vontade, adote, porque a única coisa diferente é o processo. O sentimento é o mesmo. É um amor imenso e eu acredito que seja o amor de todas as mães”, finaliza.
*à pedido da família, os nomes foram alterados.