O que é e quais são os efeitos da chamada “cultura do cancelamento”?
- 19 de fevereiro de 2021
- 09:40
- Tayla Pinotti
De acordo com o dicionário, cancelar é um verbo cujo significado é: eliminar para tornar sem efeito. Mas você já parou para pensar, então, o que é essa tal de cultura do cancelamento? Depois que a internet passou a ser uma espécie de tribunal virtual, pessoas são canceladas quase que diariamente e pelos mais variados motivos.
Basicamente, o cancelamento de pessoas funciona assim: um usuário de mídias sociais vê um ato ou comentário que considera errado e o registra para postar na sua própria conta fazendo uma espécie de “denúncia”. Outros usuários e até mesmo digital influencers repostam a mensagem e, em questão de horas, todos estão convocando uma espécie de boicote.
Por ser um movimento recente – e complexo ao ponto de ter ganhado até a alcunha de “cultura” -, ainda não existem muitos estudos acadêmicos, pesquisas e dados específicos sobre o tema. No entanto, já é possível discutir sobre os efeitos – positivos e negativos – que o fenômeno vem causando dentro e fora das redes.
Como surgiu a cultura do cancelamento
Internacionalmente, o conceito de cancelar celebridades está relacionado ao #MeToo, movimento que trouxe à tona uma série de denúncias de assédio sexual contra grandes nomes masculinos do cinema e que se espalhou rapidamente pelo mundo todo a partir de outubro de 2017.
Graças ao movimento, 200 homens influentes da indústria cinematográfica não apenas perderam seus cargos, como também foram cancelados por toda a internet. Na época, o cancelamento ainda estava fortemente relacionado à pautas sociais que visavam combater questões como o machismo, o racismo e a homofobia, por exemplo.
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Dessa forma, pode-se dizer que o ato de cancelamento na internet surgiu como um movimento que visava – mesmo que, para algumas pessoas, de forma inconsequente – romper com uma estrutura de poder. Isso através de uma denúncia virtual considerada justa, já que, de outra forma, essas “minorias” não seriam escutadas.
O que virou a cultura do cancelamento
Apesar de ter surgido com um propósito aparentemente genuíno de dar voz a quem nunca foi ouvido, a cultura de cancelamento acabou perdendo o senso de proporção. Com sede por justiça, muitas pessoas passaram a confundir quem estava agindo por ignorância com preconceituosos de grupos privilegiados.
Como consequência disso, passou a ser “normal” cancelar pessoas até mesmo por coisas banais, como o uso equivocado ou mal colocado de uma expressão, por exemplo. De acordo com especialistas da psicologia, a necessidade de apontar falhas pode ser motivada por uma tentativa de se mostrar moralmente superior.
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Para demonstrar que não é uma pessoa machista, por exemplo, o usuário das redes prefere apontar para quem é. Isso porque, já que as pessoas não estão mais sendo julgadas pelo que elas são, mas sim pelo que elas fizeram ou postaram, é fundamental zelar pelos seus ideais por meio de posicionamentos nas redes.
Os efeitos – positivos e negativos – da cultura do cancelamento
O impacto e a duração de um cancelamento estão completamente relacionados ao lugar que cada “cancelado” ocupa e ao peso que a sociedade dá para o problema apontado. Por acontecerem de forma rápida e viral, os cancelamentos, em alguns casos, podem ser facilmente esquecidos – tudo funciona no tempo da internet.
Para Leonardo Goldberg, psicólogo e doutor em psicologia, que estuda as subjetividades no campo digital e suas implicações para a clínica psicanalítica, um dos principais efeitos negativos da cultura do cancelamento é essa necessidade atual de sempre haver uma “auto censura”.
Há uma perda na espontaneidade justamente porque as pessoas têm medo de serem mal interpretadas. Além disso, até mesmo manter-se neutro pode ser uma cilada já que, quem não cancela, também corre o risco de ser cancelado. Para saber mais sobre os efeitos da cultura do cancelamento, é só dar play no vídeo abaixo: