Entenda o que é celibato involuntário e por que ele pode ser perigoso
- 4 de setembro de 2019
- 10:17
- Talitha Benjamin
Incel é a gíria americana que deriva do termo involuntary celibacy, ou celibato involuntário. O termo é usado para se referir a homens (em sua maioria brancos e heterossexuais) que não conseguem criar laços íntimos ou se envolver sexualmente, acreditando que estão fadados à rejeição e solidão, e que, por essa razão, nunca serão felizes.
Esses homens costumam se organizar em fóruns na internet, onde discutem suas inseguranças e frustrações por não conseguirem se relacionar. No entanto, esses espaços passam longe de serem grupos de apoio mútuo. São fóruns onde a misoginia e o ódio correm soltos, já que os incels colocam a culpa do fracasso de suas vidas sexuais e inadequação nas mulheres, no feminismo, na própria aparência e nas minorias.
O ciclo vicioso das comunidades incels
Nessas comunidades, ao invés de encontrarem um grupo de apoio de pessoas que sentem frustrações parecidas, há uma subcultura onde os incels são encorajados a se afundarem na própria amargura, criando assim um ambiente de isolamento, decepção e ódio.
Nesses grupos, o ódio às mulheres é muito intenso e, consequentemente, há incitação de violência física, psicológica e sexual contra elas, tanto que a comunidade de fóruns Reddit exclui todos os grupos de discussão de incels de sua plataforma.
Para eles, não há solução para as suas aflições e é na subcultura incel que eles encontram uma “explicação” para o seu sofrimento, além de ser um espaço para expressarem suas frustrações. Em uma fórum já desativado, um usuário desabafa embaixo de uma foto de um casal, que mostra uma mulher segurando a mão de um homem: “sempre sonhei em ter algo como isso. Mas agora eu não me importo mais, estou destruído. Mais de uma década de sofrimento não vai se curar”.
Consequentemente, o sentimento de rejeição social se torna um combustível para alimentar o ódio: para eles, as mulheres são cruéis, preguiçosas, e interesseiras. Os homens “bonitos” que conseguem se relacionar com elas são estúpidos e capachos.
O celibato involuntário e a violência
A entidade americana Southern Poverty Law Center, uma ONG que monitora grupos extremistas classificou os “incels” como radicais que disseminam discursos de ódio. Segundo a organização, “incels, ou celibatas involuntários” fazem parte de todo um sistema online de supremacia branca.
Alimentados pela autodepreciação intensa, os homens que fazem parte dessa comunidade obscura disseminam ódio e idolatram os homens que cometem grandes atos de violência.
Incels e a misoginia
O ódio desprezo pelas mulheres funciona tanto como justifica, quanto como motivador para os incels. Para eles, elas são seres inferiores que só se interessam por dinheiro e status social. Nesse contexto, sentem que seu fracasso em não conseguirem se relacionar com elas apenas reforça toda sua ideologia.
O machismo dentro dessas comunidades é latente, encarando o gênero feminino como um todo carrega a culpa das frustrações masculinas.
Não é incomum que mulheres em fóruns de incels sejam chamadas de seres insignificantes e cruéis que não sentem pena dos homens, portanto, não são dignas de respeito. Não é diferente da lógica patriarcal na qual vivemos que atribui à mulher a responsabilidade de cuidar e zelar pelos sentimentos e bem estar dos homens acima do seu próprio.
Os problemas enfrentados pelos incels não deixam de ser preocupantes. Autoestima baixa, sentimentos de insuficiência social e emocional são problemas sérios que podem agravar sentimentos ruins e doenças mentais como depressão e ansiedade. No entanto, é preciso separar o sofrimento legítimo do ódio e tratar o problema de forma correta, com acompanhamento psicológico, participação da família e círculo social, antes que esse quadro se agrave para o isolamento total e acabe se tornando algo irreversível.