Afroconveniência: entenda mais sobre o termo
- 5 de abril de 2019
- 10:42
- Thauany Lima
Quem quer ser negro no Brasil, realmente não sabe os índices de exclusão que essa raça vem sofrendo desde o final do século XIX. É preciso levar em conta que eles somam 54% da população nacional, no entanto são os 63,7% dos desempregados, 72% da população carcerária, além de arcarem com os 63% do quadro de mais pobres e miseráveis do país, isso de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Além desses cenários de sofrimento, as pessoas que mais morrem por decorrência de violência são as negras, estimando-se que a cada 23 minutos uma seja assassinados no país, segundo o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA).
Ser negro em um país racista é uma luta diária pela vida, dignidade, direitos e respeito, no entanto, há quem se aproprie dessa realidade apenas quando é conveniente.
Nos últimos anos houve um aumento considerável no número de pessoas que se autodeclaram negras, saindo de uma porcentagem de 47,9% em 2004, para 54% em 2018.
Esses números podem ser explicados de várias maneiras, seja pela consciência de classe, trazida pelo aumento do ingresso de negros nas universidades e pelo acesso rápido à informação (internet), mas também pela famosa “afroconveniência” ou blackfishing.
Mas afinal, o que é a afroconveniência?
O sistema de cotas para universidades apareceu com a intenção de inserir cada vez mais os negros no ensino superior, para assim, conseguirem no futuro, uma igualdade racial no país, já que essa etnia foi escravizada por mais de 300 anos, excluída das grandes metrópoles pós-escravidão e, nos dias atuais, ainda sofre com o racismo estrutural.
A afroconveniência aparece na questão das cotas com pessoas de pele clara se autoconsiderando negras para ter mais facilidade nos cursos universitários, se apropriando de uma raça que precisa desse recurso para pertencer e se naturalizar nesses ambientes.
E não é só: a afroconveniência vem aparecendo entre as celebridades brancas, que se julgam “pretas” quando estão bronzeadas de sol – na tentativa de ganhar likes nas redes sociais -, quando usam tranças africanas como “modinha” ou as que fazem festas com temas “Brasil Colônia” na intenção de celebrar e homenagear um momento sofrido na cultura afrobrasileira.
Se os meus avôs são negros, eu sou negro?
As dúvidas sobre a etnia vem surgindo cada dia mais, principalmente entre pessoas de pele clara, que resolveram rever suas origens e assumir outra raça.
Ter avós negros, não faz com que o indivíduo seja negro, no entanto, a maneira como você é lido pela sociedade faz, sim, com que você pertença àquela etnia.
Se você nunca se deparou com racismo direto ou indireto – sendo eles aquele que expõe e discrimina uma pessoa sem rodeios ou o sutil e singelo -, você realmente não é entendida como negra pela sociedade.
Além disso, muitas pessoas acreditam que por ter o cabelo cacheado, faz parte da classificação étnica “preta”, quando na verdade, esse quesito não é o que determina para estabelecer uma raça, mas sim, a cor da pele.
No Brasil, diferente dos Estados Unidos que determinam a raça pelo sangue e origem, a cor da pele é o elemento mais relevante e determinante, isso devido à teoria do colorismo no país – que se resume basicamente em um processo de embranquecimento, uma tentativa de clarear os negros em 100 anos. Trazendo uma série de turbulência para a população afro, onde as pessoas negras de pele clara sofrem menos preconceito, comparadas com as de pele retinta.
Entenda mais sobre preconceito racial e o quanto ele prejudica os negros desde o final do período colonial.
A miscigenação brasileira pode deixar dúvidas sobre qual a raça de cada pessoa, no entanto, os “visivelmente” negros são os que mais sofrem com a desigualdade e intolerância, por isso não deveria existir questionamentos sobre quem é preto ou branco no país, já que a realidade não deixam dúvidas sobre a raça privilegiada.