Como o racismo atinge as crianças
- 20 de novembro de 2019
- 14:13
- Talitha Benjamin
O opressão contra negros no Brasil está enraizada nas instituições e estruturas políticas, sociais e econômicas, contribuindo significativamente para o problema da desigualdade social. Apesar do Brasil ter feito progressos importantes na melhoria da vida de suas crianças, ainda não foi possível diminuir os efeitos devastadores do racismo na infância.
A discriminação racial é particularmente forte já nas primeiras fases da vida, quando crianças negras se tornam vítimas do racismo nas escolas, nas ruas, nos hospitais e até mesmo dentro da família.
“Infelizmente, o racismo é um fenômeno que em algum momento vai atingir a vida das pessoas negras”, afirma a psicóloga formada Tamires Costa, uma das autoras da pesquisa “O Racismo no Contexto Escolar Sob uma Perspectiva Parental”.
Pode ser uma pequena palavra, um olhar menos atencioso ou um simples gesto – algo que não costuma acontecer com uma criança branca – que pode gerar um sentimento de inferioridade na criança e, consequentemente, causar um sofrimento muito grande.
A discriminação pode vir em diversos formatos, mas é mais comum que aconteçam em forma de brincadeiras e piadas de tom racista: “muitas vezes é sobre o cabelo crespo, sobre o tom de pele e traços fenótipos, como nariz e boca”, explica a psicóloga.
As micro agressões também são bem comuns – são atos que não chegam a ser diretamente preconceituosos, mas são praticados a partir de um subconsciente racista, como por exemplo: preterir a criança negra na hora de participar de brincadeiras ou eventos, ou seja, deixá-las por último, favorecendo crianças brancas antes dela.
Quais são os efeitos colaterais da discriminação racial na criança?
O racismo estrutural fere a criança desde muito cedo e as suas cicatrizes permanecem por muito tempo. Os danos afetam o psicológico, o emocional e o social da criança. Tamires afirma que os problemas podem afetar a auto estima, continuando até a fase adulta, pois o racismo enfraquece a auto percepção e identidade das pessoas negras.
Segundo Tamires, o racismo também afeta o desenvolvimento da criança: “o sofrimento da vítima de uma desigualdade social afeta o processo de aprendizado, podendo contribuir até mesmo para a evasão escolar da mesma”. A afirmação vai de encontro aos dados obtidos pela UNICEF, que apontam que há em média 1 milhão de adolescentes negros que não estudam, enquanto os brancos representam 653,1 mil adolescentes.
Nesse processo, onde toda a identidade da criança destruída e demonizada, a mesma cresce com uma visão distorcida de si mesma, aprendendo a odiar os seus traços e cultura negra.
Como abordar a questão do racismo com as crianças?
O advogado ativista e presidente da África do Sul, Nelson Mandela, que é um ícone na luta pela igualdade racial afirma que “ninguém nasce odiando uma pessoa pela cor da sua pele”. Isso significa que a discriminação e o preconceito são coisas que são aprendidas – e as crianças dependem totalmente dos adultos que a cercam para lidar com essas questões.
Para Tamires, é de grande importância que esse assunto seja abordado logo cedo, principalmente com crianças negras. “É importante que ela saiba que [o racismo] pode acontecer em algum momento, e deixar o espaço aberto e acolhedor para que elas falem sobre isso sem que sejam constrangidas ou tenham suas dores diminuídas”, aconselha.
Além disso, a educação cumpre um papel importantíssimo. Conversas, discursos e atividades que visam fortalecer a identidade racial das crianças também são necessárias por meio da representatividade. Essa é importante para que a criança se sinta representada, incluída e incentivada a fortalecer quem ela é. O professor precisa estar atento à manifestações de racismo e discriminação.
“O professor também precisa promover discussões e a integração de estudos sobre a diversidade étnica existente no Brasil, conforme a Lei 11.645, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática ‘História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena’”, lembra Tamires.
Dessa forma, com o comprometimento dos pais e professores, é necessário dedicar-se a evitar o sofrimento psíquico das crianças negras, afinal, a promoção da saúde mental e bem estar de crianças e adultos é de suma importância no combate ao racismo. Aproveite e confira como fazer sua filha crescer com uma autoestima elevada.