A importância da autoestima na estética negra
- 10 de novembro de 2019
- 11:14
- Talitha Benjamin
Pare para pensar: em programas de TV, no cinema ou nas propagandas em geral, quantas pessoas negras você vê? Quando você pensa em um cabelo bonito, como é esse cabelo? Quando você tenta se lembrar da pessoa mais bonita que conhece, essa pessoa é branca ou preta?
É muito pouco provável que as suas referências de beleza sejam de pessoas negras. Apesar do Brasil ser o segundo país com a maior população negra do mundo – ficando atrás apenas da Nigéria -, foi apenas recentemente que passamos a ver mais pessoas negras em comerciais, programas de TV e propagandas. E essa realidade só passou a mudar depois que as discussões sobre as relações raciais no Brasil e como o racismo estrutura a sociedade se tornaram mais populares.
Para entender o porquê de as pessoas negras estarem longe do que a sociedade enxerga como “bonito” e “atraente”, é preciso entender como a estética negra foi destruída pelo processo de escravidão.
O processo de destruição da “afroestima”, a identidade africana
Há cerca de 130 anos, a escravidão deu-se por encerrada no Brasil, mas o estrago já estava feito. Durante esse período sombrio da história, toda a cultura e identidade do povo africano foi demonizada, destruída e hostilizada – desde os seus cabelos, cultura, vestimentas, religião, acessórios e até mesmos os seus traços físicos, como a pele escura, os narizes largos e os lábios grossos.
O fim da escravidão liberou os negros do trabalho forçado. No entanto, por séculos, o racismo estrutural continuou a impedir que os negros pudessem vislumbrar uma vida digna. Até hoje, a sociedade brasileira carrega uma cultura escravocrata – onde a identidade e estética negra é constantemente demonizada e hostilizada, por exemplo: o cabelo crespo é visto como “cabelo ruim”, portanto, não é um cabelo ideal ou bonito. No Brasil, ser negro automaticamente significa ser feio, indesejável e o oposto de tudo que é consideravelmente socialmente aceitável e agradável esteticamente.
A recuperação da autoestima por meio do empoderamento negro
Um dos pontos mais importantes da recuperação da autoestima da pessoa negra é a estética. Desde que nasce, o negro é ensinado pela sociedade (pela televisão, cinema, escola, amigos e família) a odiar seus próprios traços e a aproximar-se o máximo que puder do padrão de beleza europeu (pele branca, cabelo liso, nariz fino, lábios menores) e a afastar-se da sua própria identidade.
Recuperar a autoestima enquanto pessoa negra é assumir-se negro. E estar confortável tendo traços africanos e, além de se sentir bonito e atraente, sentir orgulho deles. Chamamos isso de empoderamento negro. Percebe-se cada vez mais pessoas assumindo essa identidade: a cada dia que passa, temos mais personalidades, modelos e celebridades negras fazendo sucesso, e essa representatividade é poderosa, pois mostra para quem assiste que é possível ser bem sucedido, bonito e atraente quando se é negro.
É evidente que há aspectos muito mais importantes que a estética de uma pessoa e dar tanta importância para a aparência pode parecer uma vaidade desnecessária. No entanto, é preciso entender que por causa do racismo, estar satisfeita com a própria aparência natural (cabelos, traços, cor da pele) é um sentimento negado desde o nascimento. Portanto, sentir-se bonita é um ato político.
Se você tem dificuldades para aceitar os seus traços negros, pense bem: quem se beneficia desse sentimento? Certamente não é você – portanto, por que insistir nele? O processo de aceitação da sua identidade negra é árduo e requer muita desconstrução – mas vale a pena, pois você merece se sentir bonita e de bem com você mesma, exatamente do jeito que você é!