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Red pill e misoginia: o que significa, e o que extrair do movimento?
- 12 de maio de 2023
- 14:39
- Talitha Benjamin
É notável em todos os aspectos que a internet mudou para sempre como vivemos em sociedade. Movimentos sociais e reivindicações políticas tomaram um fôlego nunca visto, e hoje, falar sobre direitos humanos, especialmente sobre feminismo, é um assunto cada vez mais presente na vida de todos os brasileiros. Mas a internet também deu um fôlego para quem vem na contramão da aceitação e do fim da misoginia, e um desses grupos chama a atenção pela penetração entre jovens aqui no Brasil: o movimento “Red Pill”.
O movimento Red Pill é uma subcultura online bastante controversa, graças aos seus discursos misóginos e sexistas. Ele é formado majoritariamente por homens, especialmente jovens, que acreditam viver em uma sociedade corrompida pelo feminismo, e pelo “politicamente correto”. Adeptos do movimento acreditam ter sido despertados para uma realidade onde seus “instintos masculinos” estão sendo boicotados para favorecerem as mulheres.
O crescimento significativo desse movimento, e outras subculturas que declaram a superioridade masculina, é algo que preocupa diversos especialistas e instituições. Diversas ocorrências de crimes de ódio cometidos por indivíduos adeptos do movimento Red Pill sugerem uma espécie de ressurgimento da misoginia moderna, em resposta direta à emancipação feminina.
O que é, e como surgiu o movimento Red Pill?
O movimento “Red Pill” é uma comunidade online formada majoritariamente por homens que acreditam que a sociedade foi corrompida pelo feminismo e pelo “politicamente correto”. Esse grupo de homens se enxerga como pessoas que despertaram para uma realidade desconhecida por outros, e usam uma linguagem formada a partir de referências do filme estadunidense “Matrix” para descrever suas crenças.
Esse grupo formou-se a partir de comunidades virtuais, focadas na construção do auto aperfeiçoamento masculino, assim como estratégias para conhecer e namorar mulheres e também para o crescimento pessoal. Em 2012, um fórum chamado “The Red Pill” foi criado na rede social Reddit e, com o passar do tempo, foi sendo utilizado para desabafar e expor opiniões dos membros sobre os impactos negativos do feminismo sobre a sociedade e, em especial, no comportamento das mulheres.
Ao longo dos anos, o movimento Red Pill foi se expandindo para fazer parte de uma atmosfera virtual ainda maior. Esses conteúdos, que pregam ideais misóginos e sexistas, impulsionados por algoritmos cada vez mais assertivos, foram atingindo cada vez mais homens interessados em pesquisas sobre masculinidades.
O que prega o movimento Red Pill?
O movimento Red Pill é amplamente criticado por especialistas em diversas áreas justamente por promover visões e discussões misóginas e sexistas, criando uma visão de mundo que é prejudicial e perigosa tanto para as mulheres, quanto para os próprios homens.
Um dos principais discursos adotados pelo movimento é a ideia de que homens e mulheres são diferentes, e que essas diferenças precisam ser celebradas e preservadas, e não minimizadas. Segundo os adeptos do movimento, homens são naturalmente mais dominantes e assertivos, enquanto as mulheres são mais emocionais e cuidadosas. O movimento Red Pill acredita ainda que as tentativas de criar igualdade, e eliminar os estereótipos negativos de gênero, são prejudiciais para a sociedade.
Outros valores suportados pelo movimento Red Pill é que a sociedade espera que homens adotem uma postura submissa e fraca em relação às mulheres, e que eles só podem ser felizes e bem-sucedidos quando adotarem uma postura dominante, ignorando os desejos e necessidades das mulheres em suas vidas.
Também é possível identificar no discurso Red Pill uma propensão a acreditar que mulheres são naturalmente manipuladoras, interesseiras e mentirosas, principalmente em relacionamentos afetivos, além de não serem capazes de amar ou de serem leais aos homens.
Quando o movimento Red Pill se torna um perigo?
Entre os discursos e falas de adeptos do movimento Red Pill, é possível identificar muitas crenças datadas, conservadoras e até mesmo agressivas e violentas sobre as mulheres. Por isso, este movimento tem sido considerado por diversos especialistas como uma subcultura perigosa, ligada a diversos crimes de ódio contra minorias, especialmente as mulheres.
Adeptos do movimento ignoram estatísticas reais de violência contra a mulher, desigualdade de gênero, e tendem a adotar discursos que minimizam a cultura do estupro. Além disso, não há, dentro do movimento Red Pill, espaço para a aceitação da comunidade LGBTQIAP+, já que esses homens acreditam que relações heterossexuais são as “ideais”, e sugerem que a homossexualidade ou transgeneridade seja um distúrbio mental que não deve ser “encorajado”.
Em 2017, o exército estadunidense passou a monitorar o canal virtual onde o movimento Red Pill nasceu, alegando preocupações sobre potenciais atividades extremistas e a disseminação de discursos misóginos e homofóbicos.
Já em 2018, a polícia federal dos Estados Unidos e do Canadá passou a monitorar membros do grupo Proud Boys, um grupo extremista associado ao movimento Red Pill e a outras organizações de supremacia branca e fascista. Desde então, diversos membros foram presos e condenados por planejar e cometer ataques violentos contra minorias – inclusive, muitos deles estão envolvidos na invasão ao Capitólio dos Estados Unidos.
Movimento Red Pill no Brasil
O movimento Red Pill alcança perigosas e gigantescas dimensões e popularidade em países falantes da língua inglesa. Aqui no Brasil, chegou tímido, mas logo se disseminou entre muitos homens, principalmente jovens e adolescentes. Para este grupo, frustrados com o culto à aparência e com a dificuldade em ascender profissional e financeiramente, o ódio se transfere para as mulheres, que, na contramão, se tornam cada vez mais independentes dos homens.
O que extrair do surgimento do movimento Red Pill, e como combater o discurso misógino que o acompanha?
Identificar e contrariar o movimento Red Pill é um dos grandes desafios modernos na luta contra a misoginia, e na garantia de uma sociedade igualitária para homens e mulheres. É importante ficar atento à linguagem utilizada pelos adeptos, que, em geral, são termos que reforçam estereótipos negativos para ambos os gêneros: palavras como “alpha”, e “beta” são utilizadas para classificar homens pela sua hierarquia social e nível de dominância, algo que não é, e nem deve ser, aplicável na vida real.
É preciso também reforçar números e desafiar a desinformação: parte do reforço do movimento Red Pill é minimizar os números reais da misoginia, que mostram mulheres sendo as maiores vítimas de violências e crimes sexuais, enquanto os homens são os maiores agressores. É importante lutar contra qualquer tipo de discurso que minimize, justifique ou ainda reforce a violência contra a mulher, assim como também é inaceitável que as vítimas sejam responsabilizadas por esses crimes.
Masculinidade positiva: odiar mulheres não é a resposta
É importante ressaltar que o movimento Red Pill, e os ideais misóginos e sexistas que o acompanham, não são perigosos apenas para mulheres, mas sim para os próprios homens.
Acreditar que homens são mais assertivos e dominantes que as mulheres é um estereótipo negativo com impactos muito profundos na saúde e bem-estar emocional e psicológico masculinos. Assim como as mulheres, homens também podem sofrer, no entanto, forçar a masculinidade tóxica pode fazer com que alguém que precise de ajuda não a procure, pois não quer demonstrar fraqueza.
Enquanto o movimento Red Pill clama se preocupar com os problemas enfrentados pelos homens, é frequente que adeptos ignorem ou minimizem diversos problemas e discriminações das quais os próprios homens podem ser vítimas. Homens não-brancos, que não sejam heterossexuais, que não performem a masculinidade tradicional, ou possuam algum tipo de deficiência física ou intelectual também podem ser vítimas de preconceito e discriminação.
As expectativas de masculinidade promovidas pelo movimento Red Pill frequentemente pregam homens no auge da sua força física, desempenho sexual e sucesso financeiro. No entanto, sabemos que essas expectativas, muitas vezes, estão muito longe da realidade. Por mais que seja saudável buscar a melhor versão de si em todos os aspectos, é importante saber que não existe um caminho fácil, ideal ou garantido para a felicidade e contentamento, e que essas coisas não serão iguais para ninguém.
O movimento Red Pill também promove a criação de uma desconfiança e hostilidade contra as mulheres, mesmo aquelas que possam ser importantes para os seus adeptos, e transformar relações verdadeiras em jogos em que há possíveis vencedores e perdedores. É importante saber que, para além de status social e econômico, pessoas têm sentimentos que não podem ser ignorados, e que é preciso compreensão e empatia para lidar com as próprias emoções e também as dos outros.