Distúrbio de imagem: como o efeito zoom afeta a nossa relação com o corpo
- 22 de julho de 2022
- 16:42
Com a chegada e o longo período da pandemia, muitos setores precisaram se adequar a esse novo momento, incluindo novas tecnologias a tarefas cotidianas e no mercado de trabalho. Nas atividades laborais, o computador e o celular ganharam ainda mais importância, sendo, nesse período, o principal ponto de contato entre colaboradores e empresas.
Foi nesse cenário em que as reuniões remotas, via ferramentas de videoconferência, se tornaram parte do cotidiano de muitas pessoas e que um distúrbio de imagem nasceu: o efeito zoom. Em contato cada vez mais com a própria imagem refletida nas telas dos dispositivos, o efeito zoom trouxe um incômodo recorrente com a imagem captada pelas câmeras, tornando as pessoas cada vez mais autocríticas com a própria aparência.
Mas por que surge esse sentimento de olhar para si e não gostar do que está vendo nessa nova espécie de espelho nas telas? Entenda melhor o efeito zoom e como ele pode afetar a relação com nosso próprio corpo.
Entenda o que é o “Efeito Zoom”
Para mensurar o impacto do efeito zoom é preciso entender o conceito por trás de um distúrbio de imagem. Cientificamente conhecido como Transtorno Dismórfico Corporal (TDC), um distúrbio de imagem se caracteriza por uma alteração da percepção de si, ou seja, ao se olhar no espelho a pessoa enxerga uma imagem que não condiz com a realidade. Essa distorção da própria imagem acarreta em sofrimento psicológico e diversas consequências na vida de uma pessoa, até levando a outros tipos de transtornos, como os alimentares.
No caso do efeito zoom (em referência ao programa de software de videotelefonia), o espelho são as telas dos dispositivos eletrônicos, como computadores e celulares, e o distúrbio de imagem acontece porque de tanto a pessoa ver a própria imagem em videochamadas ela passa a ficar incomodada, notando defeitos que antes passavam despercebidos e até coisas que nunca foram um desconforto passam a ser.
Ou seja, a maior exposição com o próprio rosto projetado na tela, e por tanto tempo, tem causado em muitas pessoas uma crise com a própria imagem. Enquanto que para alguns essa alta exposição e tempo para examinar o próprio rosto impulsiona uma maior vontade de cuidar de si e seguir cuidados para o rosto, para outros esse contato constante com a própria imagem, somado à ansiedade e ao estresse, desencadeia um transtorno.
Como esse fenômeno afeta a nossa relação com o corpo?
Uma pesquisa da Harvard Medical School apontou que as câmeras frontais dos dispositivos eletrônicos distorcem a imagem por causa da proximidade da lente com o rosto, deixando, em geral, a face mais arredondada, além de olhos e nariz maiores. Essa distorção é algo que só acontece naquele ambiente, não se trata da realidade… mas para algumas pessoas esses detalhes tornam-se um incômodo tão grande que ultrapassa para a vida real. Esse distúrbio de autoimagem acaba gerando ansiedade, diminuindo a autoestima e impactando em diversos aspectos da saúde mental.
Além disso, o efeito zoom também impulsiona a busca por resoluções instantâneas para esses incômodos, como procedimentos estéticos rápidos para chegar a resultados o quanto antes. Entretanto, qualquer mudança no corpo precisa ser avaliada e acompanhada por profissionais capacitados – e não como uma decisão impulsiva.
Distúrbio de imagem e autocrítica
O efeito zoom diz respeito não apenas a uma exposição constante à própria imagem, mas também sobre como o uso excessivo dessas tecnologias pode colocar uma lupa sobre a face, dando um verdadeiro “zoom” a pequenos defeitos, fazendo, para certas pessoas, que eles sejam percebidos como maior destaque.
Essa percepção é motivada pelas características dessas plataformas e das tecnologias envolvidas: as videoconferências são feitas com iluminação ruim, as câmeras dos dispositivos captam ângulos que não favorecem o rosto ou que nunca antes haviam sido notados, ou seja, realçam pontos que, na vida real, não percebemos ou damos importância.
O que vem acontecendo é que esse grande foco no rosto tem realçado características que, para muitos, são vistas como defeitos. E o que tudo isso tem motivado? Uma maior autocrítica com a própria imagem e busca pela simetria facial. Segundo dados do Google, na pandemia, as buscas por rinoplastias aumentaram 4800%, por harmonização facial 250% e por botox 80%.
Embora esses sejam procedimentos estéticos que, quando feitos em lugar adequado e por profissionais capacitados, não ofereçam riscos, o que precisa ser compreendido aqui é o que pode estar motivando esse aumento de vontade por eles.
Dicas de como evitar o efeito zoom e o distúrbio de imagem
Com as tecnologias cada vez mais inseridas no cotidiano, fazendo parte de diversas esferas da vida, como evitar o efeito zoom e o distúrbio de imagem? Veja, a seguir, algumas dicas de como se preservar e manter esse transtorno longe:
Retire a opção de se ver na tela
Essa é uma medida simples que diminui um pouco a exposição à própria imagem. Boa parte das plataformas de videochamadas permitem que você retire a opção de se ver na tela quando a câmera frontal estiver ligada, fazendo com que somente as outras pessoas na reunião te vejam.
Cuide da sua saúde mental
As restrições da pandemia, como o isolamento social, vulnerabilidade econômica e o medo em torno da doença podem impactar muito o emocional, gerando ansiedade e estresse. Esses fatores, somados às altas horas em frente às telas, são um campo propício para o efeito zoom e outros transtornos de imagem, desencadeando diversos problemas. Por isso, procure ajuda terapêutica e atividades que promovam o bem-estar mental para uma melhor qualidade de vida.
Busque outras formas de autocuidado
Cuidar de si está para além de procedimentos estéticos e mudanças no próprio corpo. Procure atividades que lhe deem prazer, como um hobby, mantenha uma alimentação mais saudável, pratique alguma atividade física, mesmo que seja um exercício simples como pular corda, e adote uma rotina de skincare simples. E se você está buscando mudanças positivas na rotina de cuidados para se sentir melhor e mais bonita, conheça o movimento glow up.
Crie uma rotina mais flexível
Rotina é importante para uma melhor organização das áreas da vida, mas ter hábitos muito rígidos pode gerar ansiedade e estresse. Se você precisa e trabalha com ferramentas de videochamadas de forma remota, faça intervalos entre as chamadas e, se possível, mude o cenário e trabalhe de um café, centro cultural ou coworking (espaço compartilhado).
Lembre-se que é uma imagem distorcida
Seja com bilhetes espalhados pela mesa de trabalho, seja em conversas com amigos, lembre-se que a imagem que você vê nas telas não é a realidade, apenas uma versão distorcida pela tecnologia.
Procure ajuda profissional
Mesmo se você não acha que a sua vida está suscetível ao efeito zoom, ter acompanhamento terapêutico e psicológico contribui para diversos âmbitos da vida. Procure um profissional de sua confiança e converse sobre os temas sensíveis para você ou que trazem desconforto.
Em resumo, o efeito zoom é um problema dos nossos tempos e mediado por tecnologias que estão inseridas no dia a dia de muita gente. Por isso, a melhor forma de combater esse distúrbio de imagem é a conscientização. Lembre-se sempre que aquela imagem não é real, busque ajuda médica se necessário, coloque nossas dicas em prática e tenha uma vida mais leve!