Racismo reverso existe?

  •  Icone Calendario28 de fevereiro de 2021
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  • Luana Queiroz
 Mulher branca, segurando uma placa em protesto contra o Racismo Reverso

Você provavelmente já se deparou com a expressão racismo reverso em notícias, feed de redes sociais e rodas de conversas. Baseado na justificativa de que pessoas brancas também sofrem racismo, o racismo reverso trataria-se de um “racismo às avessas” praticado por minorias sociais ou étnicas contra uma maioria, ou seja, de negros contra brancos.

Embora o termo esteja novamente em evidência, engana-se quem pensa que ele é um conceito novo. A expressão surgiu nos Estados Unidos durante o Movimento dos Direitos Civis, principalmente para fazer referência a grupos que estavam ganhando força durante aquele período, como os Panteras Negras. Na época, era muito comum ser também chamado de “racismo negro”.

Com o aumento de ações afirmativas, como cotas sociais e raciais, e iniciativas privadas, como grandes empresas abrindo processos seletivos exclusivamente para negros, acabam por trazer à tona o debate: racismo reverso existe?

Racismo reverso não existe

Para entender porque não existe racismo reverso, é preciso rever a história e o conceito de racismo.

De acordo com o dicionário Michaelis, racismo é uma “teoria ou crença que estabelece uma hierarquia entre as raças (etnias); doutrina que fundamenta o direito de uma raça, vista como pura e superior, de dominar outras”. Ou seja, pode-se considerar racismo quando se pressupõe que uma pessoa negra é inferior às outras e, por isso, ela pode sofrer exploração do trabalho, perseguição cultural e segregação baseado apenas na justificativa da raça.

Ao olhar para a história brasileira, milhões de pessoas negras (estima-se que cerca de 4 milhões) desembarcaram aqui para serem escravizadas e submetidas a jornadas exaustivas de trabalho, condições precárias de moradia e alimentação, além de castigos físicos. E mesmo após mais de um século da abolição, os efeitos desse racismo não cessaram, tampouco foram reparados. 

Com o fim do trabalho escravo, o negro não compartilhou dos mesmo direitos que o branco, permanecendo em situação inferior, agora sendo explorado em outros lugares. Assim, a apropriação da força de trabalho negra por brancos, em posição de privilégio, permanecia e a estrutura construída continuava a reproduzir critérios que excluíam e negavam direitos à pessoa negra – e isso ainda pode ser visto.

Contra fatos e dados…

Os reflexos desse sistema que escravizou o negro por séculos, usando o argumento da raça e, assim, o racismo, ainda podem ser visto e sentido por grande parcela, já que os negros representam 56% da população brasileira. E os dados apenas comprovam isso:

  • O desemprego entre negros é 71% maior do que entre brancos.
  • Em 2019, o salário médio de trabalhadores negros foi 45% menor do que o dos brancos.
  • Pretos e pardos ocupam apenas um décimo das cadeiras no Parlamento Nacional.
  • Dentro das empresas, só 0,7% dos diretores são negros.
  • E entre as vítimas de violência letal no Brasil, 74,4% eram negras.

Diante de um contexto histórico de exploração e exclusão que ainda reverbera na vida do negro, não é possível relativizar esse tipo de cenário com uma agressão verbal sofrida pelo branco. Só seria possível falar em racismo reverso se, nos últimos séculos, os negros tivessem criado uma estrutura que oprimisse os brancos e, com ela, tivessem gerado riqueza e valores em cima desse sistema.

Por isso, existe um abismo entre o que essa violência gera em cada grupo, tornando impossível a relativização e a existência do racismo reverso.

E para ajudar a desmistificar e mostrar porque racismo reverso não existe, a embaixadora Salon Line Bielo Pereira falou um pouco sobre o assunto e como o termo em si carrega um significado controverso. Assista!



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