O que é e como acontece o feminismo de ocasião
- 25 de fevereiro de 2020
- 10:57
- Talitha Benjamin
O movimento feminista no Brasil foi responsável por diversas conquistas de direitos civis para a população feminina, como a educação, direito ao voto e punições mais severas para a violência de gênero. Até hoje, diversas organizações são dedicadas a continuar com a luta pelas melhores condições de vida das mulheres em todos as estruturas sociais.
Nos últimos anos, o feminismo explodiu em popularidade graças às redes sociais e o ideal de igualdade de gêneros e o combate ao machismo caíram nas graças de grande parte da população brasileira, ganhando um espaço bastante significativo no debate público. No entanto, no processo de disseminação dos ideais feministas, o movimento foi se diluindo, e diversos estudos e reivindicações passaram a ser utilizados de forma vaga e rasa.
O feminismo nos dias atuais
Esse movimento social surgiu após a Revolução Industrial e, desde o início, já reivindicava o direito das mulheres de votarem, serem donas de propriedades e de acessarem as instituições políticas. Apesar desses direitos já serem garantidos, o acesso a eles ainda é extremamente escasso devido ao pensamento cultural e social, que falhou em seguir os avanços das discussões por igualdade.
Até hoje, as mulheres ainda são minoria na política e em cargos de liderança, e ganham menos do que os homens, independentemente de sua formação e cargo no mercado de trabalho. Também são a maioria das pessoas brasileiras que se encontram em situação de pobreza. Além da questão econômica, há também a cultura: os números de crimes contra mulher (incluindo assédio, estupro, agressões físicas e feminicídio) constatam que a violência de gênero é epidêmica no Brasil.
A internet e as redes sociais ampliaram as discussões do feminismo para níveis nunca antes vistos: diversos fóruns, grupos e debates trazem a tona diferentes versões desse movimento político sempre tendo em vista a melhora da condição de vida das mulheres, acompanhando os problemas da era moderna: a diversidade sexual, o racismo, a maternidade compulsória, o direito ao aborto e muitas outras questões são discutidas pelo feminismo atual. A partir de demandas específicas, várias vertentes e recortes vão surgindo.
O problema do feminismo individual
Quando falamos da popularização do feminismo, é importante destacar que, apesar de ter proporcionado um maior espaço e visibilidade para discussões de problemas sérios, o movimento também passou a ser encarado como um assunto mais raso, que se resume apenas a igualdade, quando, na verdade, recortes políticos, econômicos e sociais precisam ser considerados na discussão. Somente a partir daí é possível atingir a equidade, isto é, direitos humanos que respeitem a diversidade e as condições individuais de cada mulher.
A ideia de que o feminismo trata-se apenas da luta pela igualdade das mulheres é conhecida por todos e praticada por muitos, mas a extensão desse discurso costuma parar por aí. Chamamos de feminismo de ocasião o discurso feminista em contextos individuais, apenas quando convém a uma pessoa ou um grupo específico.
Podemos citar como exemplo as mulheres brancas que adotam o movimento feminista para si e ignoram a realidade difícil de mulheres negras e indígenas. Ou as de classe média ou alta que ignoram o quanto a pobreza é um fator determinante no que diz respeito à independência financeira, acesso à saúde e ao mercado de trabalho. A feminista de ocasião utiliza-se do movimento político apenas em situações convenientes, enquanto ignora outras situações de opressão de gênero que não lhe abordam.
A escritora e ativista caribenha-americana Audre Lorde escreve: “não sou livre enquanto outra mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas”. É importante ressaltar que o feminismo é pensado por sociólogas, estudiosas, teóricas, artistas antropólogas de diversas realidades para pensar em todos as aspectos da opressão de gênero, e essa abrangência precisa ser considerada em discussões e debates que se proponham a desconstruir o machismo enraizado na sociedade.