Diversidade nas empresas: o que são vagas afirmativas?
- 11 de abril de 2022
- 14:53
Conforme o debate das relações sociais no Brasil vai avançando, aspectos da vivência de minorias são trazidos à luz. Um dos reflexos mais emblemáticos, que mostra como o Brasil, apesar de ser um país com proporções continentais, ainda sofre com a desigualdade, é observar o mercado de trabalho, onde ainda é possível enxergar, em números, a falta de oportunidades para grande parte da população, sobretudo para negros, mulheres, pessoas com deficiência e para pessoas LGBTQIA+.
Quando falamos sobre empregabilidade no Brasil, o discurso meritocrático nos faz acreditar que, com bastante esforço, dedicação e muito estudo, todos podem ter acesso a oportunidades iguais de sucesso. Mas, na prática, isto está longe de ser a realidade: diversos dados mostram que uma parte significativa da população ainda encontra dificuldades em arrumar emprego por conta da sua cor de pele, gênero, orientação sexual ou condição física. Veja alguns números abaixo:
- A taxa de desocupação da população negra e parda (que representa 54% dos brasileiros) chega a ser 71% mais alta do que entre brancos (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — IBGE);
- Mesmo com a lei de Cotas, aprovada em 1991, obrigando as empresas a reservarem parte das vagas disponíveis para pessoas com deficiência, apenas 1% das 45 milhões de PCD do Brasil estão empregadas (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — IBGE);
- A participação feminina nas vagas de emprego do país ainda é 20% inferior à dos homens (Fundação Getúlio Vargas — FGV);
- Apenas 4% das pessoas travestis e transgêneros possuem empregos formais, 6% estão na informalidade, enquanto 90% estão na prostituição (Associação Nacional de Travestis e Transexuais — ANTRA)
Estes dados atestam para uma desigualdade histórica que ainda perdura: ao competir por uma vaga de emprego, antes mesmo de serem avaliados pela sua formação, habilidades, competências e experiência profissional, negros, mulheres, pessoas LGBTQIA+ e com deficiência ainda têm a discriminação e o preconceito como maior obstáculo.
Diversos outros fatores separam as minorias sociais do crescimento profissional, algo que vai muito além da entrevista de emprego: desde a dificuldade em acessar uma educação de qualidade, passando pela falta de incentivo e aceitação da família, amigos e da comunidade; até a dificuldade para manter o bem-estar físico e mental para se dedicar aos estudos e ao desempenho no trabalho. Tudo isso se reflete diretamente na ausência destes grupos no quadro de funcionários das empresas.
É estatisticamente comprovado que o racismo, a misoginia, a discriminação e o preconceito estão presentes desde o momento da formação até a hora da contratação. Pensando em diminuir a desigualdade de uma forma direta, no momento da contratação, diversas empresas têm adotado a criação de vagas afirmativas: trata-se de uma posição reservada apenas para pessoas de um grupo específico. Cada vez mais é possível ver vagas ofertadas exclusivamente para pessoas negras, mulheres, pessoas LGBTQIA+ ou para PCD’s, em um esforço para abrir portas para equipes mais diversas nas empresas.
O que é diversidade e inclusão nas empresas?
A movimentação de empresas apostando em vagas afirmativas surge como resultado de uma crescente pressão social por reparações que diminuam os efeitos do racismo e da misoginia enraizada na sociedade. Mas não é só isso: a inclusão e o incentivo ao crescimento profissional de grupos marginalizados não é apenas benéfico para reparar as desigualdades, mas também para o crescimento econômico.
Conforme um estudo da Organização McKinsey & Company, empresas com diversidade étnica e racial possuem 35% mais chances de lucrarem acima da média, enquanto a diversidade de gênero pode aumentar o rendimento em até 15%. Além disso, o aumento da diversidade e da inclusão também contribui para um ambiente de trabalho mais enriquecedor e agradável: uma pesquisa da Harvard Business Review revelou que, onde há diversidade, os funcionários apresentam 17% mais engajamento e disposição para produzirem além de suas responsabilidades, e a existência de conflitos chega a ser 50% menor do que em outras organizações.
Ao contrário do que se imagina, os esforços para aumentar a diversidade nas empresas e instituições não agem apenas para reparar uma desigualdade estrutural, ainda latente e bem problemática no nosso país, mas também é sobre transformar o mercado de trabalho em um ambiente que reflita melhor a diversidade de vivências de um país extremamente rico em identidades como é o nosso Brasil. E que o ambiente corporativo seja mais justo, com oportunidades iguais e espaço para todos!